Quantos de nós, pergunto, quantos de nós, no nosso mais profundo estado emotivo, não pensamos em desistir? Fi-lo n-esimas vezes.
Senti-me cansada, atordoada, desmotivada e muito mais. Senti que o mundo desabara em cima dos meus ombros e que lentamente me ía enterrando por terra dentro. Senti-me falhada, mas não era isso que mais me preocupava, e sim o facto de ter vergonha de mim própria. Chorei e gritei num barulho ensurdecedor, até as minhas cordas vocais estarem completamente secas, e a tristeza tão grande que era, que pensaria eu, deixaria de ter lágrimas. Cheguei a acordar com vontade de ficar na cama todo o dia, somente para não sentir, não viver. Dissessem o que dissessem nada fazia sentido. Chateava-me ouvir as pessoas. Nada, mas nada me conseguia fazer sentir bem. E por isso, tantas vezes tratei mal as pessoas que adorava. Tantas vezes as afastei de mim por mea culpa.
Queria lá saber do quarto para arrumar ou de me vestir como gente normal. Olhava-me ao espelho atónita, ao pensar no que me tinha transformado. Desejei parti-lo várias vezes, pois entristecia-me ver aquela figura, e pior, transtornava-me o facto de ser real. O espelho transmitia sempre o que eu não queria ver, o que eu odiava, o que eu achava ridículo.
Num acto de desespero, agarrei-me a algo com as minhas forças: Estudo. Matemática sempre fora o meu calcanhar de Aquiles, e eu estava contudo, disposta a mudar isso. E fui-me acostumando a essa companhia racional e lógica. que me trazera o atraso a 3 anos da minha vida.
Pensei, nalguma vez, subitamente: “Foda-se, se os outros tiram grandes notas, qual é o meu problema caralho?”.
Fui gozada muitas vezes por ter 21 anos e estar no 12º a tirar essa tal de Matemática. Inicialmente importei-me, ficava possessa! Acostumei-me a essas piadinhas cínicas e mandei-os foder.
Durante essa minha árdua jornada pelo caminho dos números, deparei-me com imensos problemas matemáticos que davam a volta ao estômago causando-me náuseas e vómitos, e vontade sobretudo, de queimar aquele fabuloso livro e vê-lo arder até a última página.
Os exercícios escritos, com cruzes e certos, assinalando os que eu sabia ou não, fazer. “Estou farta desta merda”, “Puta que pariu matemática”, “não sei resolver este caralho”, são algumas das frases escritas em páginas com exercícios. E lá me fui habituado á derrota perante aquele aglomerado de palavras que o resultado seria uns miseráveis e ordinários números.
A cada um que conseguia resolver sozinha, era sem dúvida uma vitória. A única coisa que posso equiparar á minha felicidade quando isso se sucedia, era quando eu desejava muito algum bem material, que alguém por surpresa me oferecia. Era um ganho!
A cada alegria, um passo para uma nova etapa, algo mais difícil, que me desse luta, somente para conseguir sentir aquela felicidade.
E assim fui, aos poucos aglomerando, diariamente, um conjunto de “presentes muito queridos, e inesperados”. E tudo começou a fazer sentido a pouco e pouco. E afinal, quem diria que o que me tinha atrasado 3 anos da minha vida, seria o que me dava força, vontade e alegria? Inédito.
Actualmente guardo com estimo esse livro. E guardarei. Fora o meu livro de Psicologia durante diversos meses.
E assim fui continuando.
De repente, e também não menos engraçado, foi o facto de todas as coisas boas terem vindo por acréscimo; eu limitava-me somente a resolver exercícios matemáticos e tudo começou a compor-se. Eram boas notícias atrás de boas notícias! Os testes, sem comentários! Aquela alegria de ver um 16,1 e um 18,1 naqueles três quadradinhos nas folhas de teste fora, sem dúvida, a melhor sensação do mundo!
E agora aqui estou eu, feliz, sem dúvida, e com a segunda fase do exame nacional de Matemática daqui a dois dias (Atenção! Somente para melhoria de nota!!!!).
Um irmão que sempre me acompanhou, e sempre, desde o inicio, sabia por aquilo que eu estava a passar, e aqueles minutos infindáveis ao telemóvel a falar de matemática, do exame, do chichi que teria que fazer antes de o realizar, e o chocolatinho que deveria de comer; foi sem dúvida, algo que me acalmou naquelas horas chatas de stress.
De todas as pessoas que estão na minha vida, o meu irmão esteve, está e estará, sempre lá em cima (no máximo de uma função quadrática).
Em última instância, foi sem dúvida Matemática que me fez a pessoa que hoje. Nem sempre o que nos fode a cabeça, nos fode a vida!
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